Policenauts é uma experiência única que mescla uma história intrigante com personagens carismáticos, e oferece uma jogabilidade que mistura investigação, diálogos densos e cenas de ação interativas.
Quando falamos de Hideo Kojima, automaticamente pensamos em Metal Gear Solid e em sua mente brilhante que constantemente redefine o que é possível nos videogames.
Mas, muito antes de Solid Snake se tornar um ícone, Kojima nos apresentou Policenauts, um jogo de aventura lançado originalmente em 1994 para o PC-98 e depois portado para o PlayStation em 1996.
O jogo é uma verdadeira joia escondida, combinando narrativa cinematográfica, ficção científica e uma pegada de film noir que só o mestre Kojima poderia conceber.
Neste mergulho profundo, vamos explorar o que faz de Policenauts uma obra tão cativante, desde o enredo até suas mecânicas, visuais e sons, e entender por que ele é um jogo que continua a ressoar com os fãs de Kojima e amantes de ficção científica.
O noir encontra o futuro
O enredo de Policenauts é onde Kojima realmente brilha. No melhor estilo noir, ele combina elementos de ficção científica com uma narrativa detetivesca cheia de reviravoltas.
A história se passa em um futuro onde a humanidade começou a colonizar o espaço. No centro da trama, está Jonathan Ingram, um ex-policial da Terra que se torna um Policenaut, uma espécie de policial espacial responsável por manter a ordem na colônia espacial de Beyond Coast.
Durante uma missão, Jonathan é acidentalmente lançado ao espaço profundo em animação suspensa e, após 25 anos, ele é resgatado, sem ter envelhecido um único dia.
O retorno de Jonathan à Terra não é fácil, e sua vida muda ainda mais quando sua ex-esposa, Lorraine, aparece pedindo ajuda para encontrar seu marido desaparecido.
Isso coloca Jonathan de volta no papel de detetive, levando-o a uma investigação cheia de mistérios e conspirações que se desenrolam tanto na Terra quanto em Beyond Coast.
O enredo, com claras influências de filmes de ação dos anos 80 e 90, especialmente Lethal Weapon e Blade Runner, é incrivelmente envolvente.
O toque de Kojima é evidente na construção do universo e na forma como a narrativa é contada, com diálogos ricos, temas profundos sobre a moralidade humana, e uma crítica social sutil ao avanço desenfreado da tecnologia.
A ficção científica é o pano de fundo, mas a essência é uma história de redenção e busca pela verdade.
Carisma em camadas de Policenauts
Os personagens de Policenauts são memoráveis e bem desenvolvidos, algo que já se tornou uma marca registrada de Kojima.
Jonathan Ingram é o típico herói noir – um homem marcado por traumas do passado, cínico, mas com um forte senso de justiça.
Ele tem um charme irônico que lembra detetives clássicos dos filmes antigos, e isso o torna instantaneamente simpático.
Ao lado de Jonathan está Ed Brown, seu ex-parceiro e amigo leal. Ed é o contraponto perfeito para Jonathan – ele é mais emotivo, mais humano, e serve como a âncora moral da dupla.
A química entre os dois é uma clara homenagem à dinâmica de Riggs e Murtaugh de Lethal Weapon.
Os diálogos entre eles são ácidos, engraçados e muitas vezes cheios de sarcasmo, o que dá uma leveza às tensões do enredo.
Os personagens secundários, como Lorraine e os suspeitos que Jonathan encontra durante a investigação, também são bem caracterizados.
Cada um deles tem motivações próprias e está inserido em uma teia de mistérios e segredos que Jonathan precisa desvendar.
Kojima faz um excelente trabalho ao equilibrar a narrativa pessoal de Jonathan com o suspense da investigação, mantendo o jogador constantemente intrigado.

Está curtindo esse post? Conheça todo o meu projeto clicando aqui!
Investigação, ação e interatividade
Para os padrões da época, Policenauts trouxe uma jogabilidade única, misturando elementos de aventura gráfica com cenas de tiro em primeira pessoa.
A maior parte do jogo consiste em investigar cenários, interrogar personagens e resolver quebra-cabeças para avançar na trama.
A interface é simples, mas funcional, permitindo que o jogador examine itens e locais com um cursor para encontrar pistas.
Em muitos aspectos, a jogabilidade lembra títulos clássicos de aventura point-and-click, mas com o toque cinematográfico de Kojima.
O jogo também apresenta cenas de ação interativas, onde o jogador precisa realizar tiros de precisão em inimigos ou desviar de projéteis.
Essas cenas são dinâmicas e ajudam a quebrar o ritmo mais lento da investigação. Embora as mecânicas de tiro não sejam extremamente profundas, elas adicionam um nível de tensão, especialmente em momentos cruciais da trama.
Talvez o aspecto mais interessante da mecânica de Policenauts seja a ênfase na narrativa. Kojima claramente queria que os jogadores se sentissem imersos na história, e a jogabilidade reflete isso.
O foco é mais na resolução de mistérios e na interação com os personagens do que em habilidades de combate.
Se você está acostumado com jogos de ação pura, pode achar Policenauts um pouco mais cerebral, mas essa é exatamente a intenção. A imersão na investigação é o verdadeiro destaque aqui.
O futuro desenhado à mão de Policenauts
Visualmente, Policenauts é um espetáculo, especialmente se considerarmos a época em que foi lançado.
O jogo utiliza uma mistura de gráficos 2D desenhados à mão com animações que lembram muito os animes dos anos 90.
Cada cenário é meticulosamente detalhado, desde os escritórios da polícia até os laboratórios futuristas em Beyond Coast.
A arte é uma fusão de estilos futuristas e noir, o que ajuda a criar a atmosfera única do jogo.
As cutscenes são outro ponto forte. No estilo típico de Kojima, elas são cinematográficas e cheias de tensão dramática.
A direção dessas cenas é digna de um filme de Hollywood, com ângulos de câmera dinâmicos e momentos de silêncio calculados que aumentam a intensidade.
É impressionante como Kojima conseguiu transmitir tanta emoção através de animações simples, mas efetivas.
Os personagens também são visualmente marcantes. Jonathan Ingram, com seu casaco de detetive clássico e cabelo despenteado, é a personificação do detetive noir futurista.
Já Ed Brown, com seu visual mais casual, complementa o estilo mais sério de Jonathan. A diversidade de designs dos personagens, especialmente dos habitantes de Beyond Coast, reflete o esforço da Capcom em criar um universo coeso e visualmente único.
Atmosfera de filme noir
A trilha sonora de Policenauts é outro elemento que ajuda a construir sua atmosfera única. Misturando jazz com sons futuristas, a trilha reforça a sensação de estarmos em um mistério noir, mas em um cenário espacial.
As músicas variam entre temas tensos e introspectivos durante as investigações e batidas mais intensas nas cenas de ação.
Em muitos momentos, o silêncio também é usado de forma inteligente, criando uma sensação de suspense crescente.
Os efeitos sonoros são simples, mas eficazes. O som de armas de fogo, o eco dos passos em corredores metálicos e até os efeitos de itens sendo examinados ajudam a mergulhar o jogador no universo de Policenauts.
E claro, as vozes dos personagens são essenciais para dar vida às personalidades únicas de Jonathan, Ed e os outros.
O trabalho de dublagem é convincente e ajuda a vender a seriedade da trama, com diálogos carregados de emoção e humor na medida certa.
Policenauts tem um toque de Kojima
Como qualquer jogo de Kojima, Policenauts está cheio de curiosidades e easter eggs que os fãs mais dedicados adoram desvendar.
Por exemplo, o jogo faz inúmeras referências a filmes e séries de ficção científica, especialmente Blade Runner e 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Jonathan Ingram também é muito parecido com o personagem de Snake Plissken, interpretado por Kurt Russell no filme Escape from New York, outra das grandes influências de Kojima.
Outro fato interessante é que Policenauts nunca foi oficialmente lançado fora do Japão até muitos anos depois, quando fãs dedicados criaram traduções para o inglês.
Isso tornou o jogo um “cult classic” no Ocidente, com muitos jogadores descobrindo sua genialidade tardiamente.
E sim, se você já jogou Snatcher (outra obra-prima de Kojima), vai notar que os dois jogos compartilham muito do mesmo DNA em termos de estrutura e estilo.
Uma obra-prima esquecida?
Policenauts pode não ter recebido o mesmo reconhecimento global que Metal Gear Solid, mas é uma verdadeira obra-prima em seu próprio direito.
Sua mistura de narrativa densa, personagens carismáticos, e uma atmosfera única de ficção científica noir o tornam uma experiência obrigatória para qualquer fã de Kojima ou de histórias investigativas.
Se você está em busca de um jogo que ofereça mais do que pancadaria sem sentido e prefere mergulhar em uma trama bem elaborada, cheia de mistério e tensão, Policenauts é perfeito pra você!